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A Guerra às Drogas promovida pelos Estados Unidos moldou na América Latina o entendimento dos circuitos legais e ilegais das substâncias psicoativas, legitimando o uso da violência para garantir a exclusividade do campo legal para o mercado capitalista. A consequência foi a criminalização imediata de práticas culturais andinas envolvendo a folha de coca e, especialmente, a marginalização das comunidades vulneráveis dependentes do comércio de drogas, resultando na criação de mecanismos para o combate à cocaína, principalmente, no Valle Huallaga- zona alvo das plantações de folha de coca-, o que ocasionou uma paralisação no desenvolvimento dessa região. As políticas repressivas e militarizadas implementadas no Peru no âmbito da Guerra às Drogas seguiram a manutenção da lógica capitalista de ganhos sob essas substâncias a partir da implementação de uma violência estrutural, principalmente nas comunidades vulneráveis, fazendo com que a violação de direitos básicos e de liberdades civis passassem a ser politicamente justificadas e aceitas a partir do momento que o tema das drogas passou a ser definido como ameaça à segurança. (AU)
Este projeto tem como objetivo analisar como a direita radical populista (DRP) se manifestou de formas diferentes no Brasil e na Índia sob os governos de Jair Bolsonaro (2018-2022) e Narendra Modi (2014-), respectivamente. Ao se analisar tais casos, pretende-se averiguar similaridades, padrões e divergências na retórica nacionalista-religiosa da direita radical no Brasil e na Índia, e o modo como Bolsonaro e Modi buscaram alterar a identidade nacional de seus países com base em valores religiosos e, consequentemente, a maneira com que Brasil e Índia buscaram se projetar internacionalmente. Partindo de uma abordagem construtivista e da literatura acerca da ultradireita nas Relações Internacionais, busca-se verificar a hipótese de que no Brasil houve uma articulação da DRP muito mais voltada para o nível global, enquanto na Índia ocorreu um movimento mais orientado regionalmente. (AU)
No presente projeto propomos analisar a intersecção entre as tarefas atribuídas às forças armadas e o controle político sobre as instituições militares no Brasil, destacando a identidade militar e a colonialidade como chaves-explicativas. A proposta insere-se na crescente preocupação com o envolvimento de forças armadas em tarefas domésticas e da atuação política de militares. Apesar de fortemente interrelacionados, estes fenômenos são frequentemente tratados por agendas de pesquisa distintas. Tanto trabalhos sobre o nexo entre segurança interna e internacional, quanto os estudos sobre relações civis-militares, caracterizam a atuação militar em segurança doméstica e na política como rupturas da organização normal dos instrumentos de violência do Estado. No entanto, estes fenômenos são historicamente recorrentes em muitos países. Defendemos que a ambiguidade entre normalidade e exceção é constitutiva da identidade militar brasileira e reflete as relações de colonialidade, que perpassam e estruturam a identidade militar e a relação das forças armadas com o Estado e a sociedade. A pesquisa adota procedimentos genealógicos e de análise de conteúdo, viabilizado por software de análise qualitativa.
A política de Guerra às Drogas como prática securitária no Brasil funciona como um instrumento burocrático-repressivo, que se desenvolve de forma desproporcional na tentativa de enfrentar o narcotráfico e de lidar com sujeitos envolvidos em situações de marginalidade. Tendo sido incorporada no Brasil durante a década de 1990, as políticas e diretrizes que fundamentam a Guerra às Drogas reforçam as desigualdades, ao passo em que perpetuam e fortalecem a marginalização de certos grupos sociais. A partir de trabalhos, entrevistas e documentos oficiais produzidos acerca do tema das drogas na agenda internacional e nacional do Brasil, e também abarcando teóricos que possuem seu lócus de enunciação no Sul Global, verificar-se-á implementação da política de Guerra às Drogas no Brasil, em particular no município do Rio de Janeiro, no período que vai dos anos 1990 a 2010, abordando as consequências práticas desse conjunto de políticas, como a implementação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), nas comunidades da cidade do Rio de Janeiro. Para isso, adotar-se-á uma perspectiva decolonial, que tornará possível uma análise crítica do tema, à medida que tensiona o conjunto de políticas antidrogas como um mecanismo neocolonial, manifestado a partir de um modelo epistemológico norte-americano, que busca controlar corpos e territórios, a partir do que conhecemos como colonialidade do poder.
Não restam dúvidas de que a ideologia do governante que se encontra no poder, que pode ser determinando pelo respectivo partido político, é considerado um bom preditor para uma série de políticas públicas. A variação no espectro ideológico entre partidos de direita e de esquerda determinaria a maneira como governos implementam políticas e fazem suas escolhas. A questão que surge, no contexto deste projeto temático, é a seguinte: seria a ideologia um bom preditor para determinar o comportamento dos Estados na construção de cooperação econômica bilateral, um tema que vem ganhando cada vez mais importância desde os repetidos fracassos da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC).Tudo mais constante, as hipóteses e achados encontrados pela literatura informariam que, em países desenvolvidos - intensivos em capital -, governos de esquerda estariam mais propensos a rejeitar acordos de cooperação econômica; enquanto que, em países em desenvolvimento - intensivos em trabalho -, estes estariam mais propícios a aceitá-los. Pela própria natureza dos tratados de livre-comércio (TLCs), que trazem temas que vão muito além do comércio propriamente dito, novas hipóteses fogem dos modelos tradicionais de preferência comercial. Nesse sentido, as expectativas com relação à ideologia de governos e comportamento em relação aos TLCs são distintas. A proposta de atividades do Pesquisador Pós-Doc será acompanhar a evolução dos acordos internacionais de comércio, do ponto de vista das negociações no âmbito das instituições multilaterais e das propostas feitas pelos países emergentes, em particular o Brasil, durante o período indicado no projeto de pesquisa. O bolsista também trabalhará na análise das entrevistas realizadas e na construção de bases de dados com foco em comércio internacional, seja compilando bases disponíveis em outras instituições, seja produzindo novos dados que poderão dar subsídio às análises que se pretendem neste projeto.
Na proposta que ora se apresenta pretende-se analisar, discutir e investigar as maneiras através das quais, entre os anos de 1953 e 1964, o Curso de Estado-Maior e Comando das Forças Armadas (CEMCFA), da Escola Superior de Guerra (ESG), organizou o processo de formação, instrução e profissionalização do que considerava ser uma elite militar, preparada para atuar de acordo com as demandas impulsionadas pelo novo contexto da Guerra Fria. A partir da compreensão do papel estratégico mais amplo da Escola, entendemos que o Curso se tornou lócus altamente relevante de formação militar, orientado para novos objetivos, decorrentes da reorganização das Forças Armadas, que aconteceu, desde o imediato pós-guerra, visando atender às necessidades daquele momento. Como frente de trabalho da Escola, o CEMCFA se tornou central para pensar e elaborar um novo perfil profissional militar: perfil que tinha, por propósito, formar militares de alto escalão, treinados para operar segundo as premissas de "Segurança" e "Desenvolvimento", tidas por essenciais no enfrentamento da Guerra Fria que, segundo se entendia, possuía dimensões totais, isso é: era uma Guerra Fria Total. É válido destacar, ainda, que durante o período de nosso estudo, estes militares se tornaram atores-chave: ocuparam postos na burocracia de Estado e foram essenciais na definição da política nacional. Através de uma abordagem transnacional, ancorada em acervos documentais nacionais e internacionais, em grande parte inéditos, pensamos que nosso trabalho pode contribuir para aprofundar os entendimentos sobre a ESG e sua relação com o contexto de Guerra Fria, ajudando a lançar luz sobre os mecanismos que levaram à inserção do país na ordem mundial do pós-guerra, bem como sobre a participação decisiva dos membros das Forças Armadas neste processo, que envolveu articulações estreitas com militares dos EUA.
O presente projeto pretende analisar as reações dos agentes políticos e das representações corporativas dominantes do agronegócio frente às políticas ambiental e externa do governo Jair Bolsonaro (2019-2022). Entende-se que a eleição de um mandatário populista e de extrema-direita para a chefia da República engendrou reconfigurações importantes na 'economia política do agronegócio', fortalecendo pleitos radicalizados no setor e incentivando clivagens programáticas entre as suas principais nucleações. Em particular, assume-se, em linha com Pompeia (2021a) e Feldmann e Morgan (2021a), que o empresariado do agronegócio interage e responde ao populismo de direita de Bolsonaro de modo ambivalente, na medida em que, se, por um lado, sua administração avançou pautas de interesse do setor - notadamente, aquelas ligadas a disputas fundiárias e ao desmantelamento de órgãos ambientais -, por outro, tornou demasiado salientes (doméstica e internacionalmente) pleitos caros à elite política desse campo, alargando riscos reputacionais a corporações do 'agro', ameaçando acordos comerciais e desinvestimentos. Valendo-se do modelo clássico de 'saída, voz e lealdade' de Hirschman (1972) e das modificações sugeridas por Feldmann e Morgan (2021a), identificamos quatro possíveis respostas do empresariado ao populismo de extrema-direita do governo Bolsonaro: voz baixa, voz alta, lealdade explícita e lealdade implícita. A partir dessas categorias, almejamos avaliar os posicionamentos de quatro importantes entidades do agronegócio (Abiove, Aprosoja, CNA e Coalizão Brasil) ante episódios-chave da agenda ambiental e externa da administração Bolsonaro e, assim, refletir sobre as implicações mais amplas dessa análise para as relações Estado-empresariado no Brasil, bem como para o poder político do agronegócio.
O principal problema de pesquisa é: em relação à categoria de imperialismo de Rosa Luxemburgo e da noção de desenvolvimento desigual e combinado de Leon Trotsky, como reconstruir o processo histórico da Nigéria que possibilitou o surgimento de tensões sociais que deram ensejo a ascensão do grupo fundamentalista Boko Haram a partir da bibliografia pertinente? A hipótese baseia-se na perspectiva analítica luxemburguista da necessidade de expansão do imperialismo britânico para áreas não capitalistas do globo, na qual a colônia que precedeu a Nigéria foi destinatária, bem como díspares desenvolvimentos e configurações sociais entre Norte e Sul do país como aspectos ligados à perspectiva da categoria proposta para análise a partir de Leon Trotsky. Em relação à metodologia da pesquisa, o trabalho se valeu de uma revisão bibliográfica voltada para a formação do país, interferência externa, e os desdobramentos, a partir do método de estudo de caso. Em termos da Metodologia enquanto desdobramento do quadro teórico, o trabalho se vale de uma perspectiva mais holista, multidimensional em termos dos aspectos internos e externos, sempre em conformidade ao perfil marxista das categorias escolhidas. Neste sentido, a análise realça o conjunto das forças sociais e interesses contraditórios que permeiam a expansão imperialista, bem como os tempos desiguais da transformação histórica para o caso em tela.
As pesquisas pré-eleitorais, fundamentais na dinâmica eleitoral, informam os candidatos sobre as preferências do eleitorado, orientam estratégias de campanha e podem ser usadas pelos partidos para mobilizar a base eleitoral, inclusive por meio da disseminação de informações falsas. Tendências recentes indicam um aumento na circulação de pesquisas pré-eleitorais falsificadas nas plataformas sociais dos candidatos. Para a mídia, essas pesquisas fornecem conteúdo relevante que envolve a audiência e informa o público sobre tendências eleitorais, potencialmente influenciando o comportamento dos eleitores, incluindo padrões de voto estratégico, conhecidos como os efeitos Bandwagon e Underdog. Este estudo foca na acurácia das pesquisas pré-eleitorais nas eleições presidenciais da América Latina desde 1980, considerando variáveis como a adoção de novas tecnologias e o gênero dos candidatos. A pesquisa envolve a construção de bases de dados abrangentes dos resultados eleitorais e das pesquisas de intenção de voto, a análise de correlações estatísticas por meio de regressões lineares e a implementação de abordagens quantitativas e qualitativas para identificar erros sistemáticos e tendências ao longo do tempo e entre diferentes países. O objetivo final é aprofundar a compreensão das dinâmicas que afetam a precisão das pesquisas de intenção de votos em eleições presidenciais, especialmente como as variáveis de gênero e tecnologia influenciam nos resultados finais das pesquisas.
Na presente pesquisa busca-se analisar os checkpoints e as medidas sanitárias impostas por Israel na Cisjordânia, enquanto práticas securitárias israelenses, no período da pandemia de Covid-19 (2020-2022). Para isso, a Questão Palestina será analisada considerando seu processo histórico colonial e a manutenção da colonialidade em uma tripla dimensão: do ser, do poder e do conhecimento. A imagem do Outro, além de amparar um status quo dicotômico, relaciona-se com as práticas securitárias, de modo a produzir uma agenda voltada à segurança, como fundamento de processo de (in)securitização. Nesse contexto, a restrição de circulação dos palestinos pelos checkpoints, nos quais são utilizados mecanismos de controle e vigilância, agravou-se com a pandemia, período utilizado como pretexto para a implementação de medidas mais restritivas por parte do governo de Israel. Tratando das medidas sanitárias, os Territórios Palestinos Ocupados (TPOs), conhecidos como a "terra dos checkpoints", já eram vulneráveis antes da pandemia, período marcado pela precariedade da vacinação e pela falta de equipamentos. Paralelamente aos pontos apresentados, os métodos de controle, de vigilância e de policiamento preventivo agravaram-se com a tecnologia, que exerce um papel essencial na manutenção da colonialidade, e com os objetos tecnológicos, que produzem a alteridade das minorias e a normalização das maiorias. Para que seja possível analisar as mudanças ocorridas nos checkpoints e nas medidas sanitárias nos períodos pré-pandemia e pandêmico, as dimensões da pesquisa serão analisadas holisticamente e segundo a metodologia sobjetivista, de modo a evitar a visão dualista presente no pensamento colonial que molda, ainda hoje, o Sistema Internacional.